Sentir os braços de Santiago ao seu redor fazia com que se sentisse estranhamente em casa. Mesmo que estivesse passando por um momento difícil, ele sempre estava lá para reconfortar Anastasia. Fechou os olhos, retribuindo em silêncio, escutando a voz dele reverberar dentro de si, acalmando os pensamentos mais terríveis que estava tendo. Sentia o calor invadir o peito e irradiar para o resto do corpo, sentindo-se um pouco melhor. Permitiu descansar a cabeça contra o peito alheio, inspirando o aroma dele que fazia com que se sentisse em casa. Ao mesmo tempo que queria chorar e espernear sobre todos, havia a parte também que ansiava por permanecer em silêncio, refletindo sobre o porquê de estar constantemente sendo colocada em uma posição que não a favorecia de forma alguma. Os deuses estavam furiosos uns com os outros e, como consequência, os filhos sofriam. Respirou fundo com as palavras presas na garganta. Estava cansada de lutar uma guerra que não tinha a ver com ela, mas que era obrigada a travar. Estava cansada daquele constante movimento. Queria falar para o semideus como queria simplesmente passar um dia sem temer pelo próximo. A revelação de Maxime ainda doía como uma facada contra o peito, pensando que, de todas as pessoas, o irmão era a última pessoa que acreditava que faria algo assim.
Quando as mãos foram tomadas e encarou os olhos claros de Santiago, soube que, talvez, não quisesse falar sobre aquilo. Era óbvio pelos olhares e pela postura o quanto lutava contra os pensamentos que invadiam sua cabeça sobre tantas coisas. Era rápido demais a ponto que não tinha tempo para absorver corretamente. Quando estava prestes a superar algo, aparecia outro. E mais outro. Permitiu que as palavras não ditas permanecessem entre os dois e esperava que Santiago compreendesse cada uma delas. "Estou cansada. Odeio me sentir imponente." Sequer tinha vontade de soltar ainda mais lágrimas, mesmo que uma ou outra ainda escapasse dos olhos da filha de Afrodite. Havia tanto pesar em seu peito, mas sentia que, quanto mais pensava nos acontecimentos recentes, mais raiva incendiava o peito. Continuava acreditando que, independente do que Eloi tinha feito, provavelmente tinha uma justificativa. Quando falava isso, sentia os olhares julgadores de quem insultava o irmão, falando coisas terríveis a respeito dele. Talvez tivesse sido influenciado ou manipulado para aquilo. Poderia ser até mesmo alguém tomando a sua forma. As possibilidades pipocavam em sua mente, atropelando qualquer chance de remissão. Fechou os olhos, inspirando o ar profundamente como se fosse trazer alguma clareza. Quando os abriu novamente, percebeu que era melhor concentrar-se em qualquer coisa. A dificuldade do outro de dormir veio em sua mente e, mesmo que não pudesse ser ajudada, talvez tivesse algo que pudesse fazer por Santiago. "Me conte sobre eles. Os pesadelos." Brincava com os dedos dele, afundados no obscurecimento da noite. Ali, ninguém poderiam achá-los e ninguém saberia sobre o que falariam. Sabia que ele sempre foi atormentado pelos sonhos, que jamais interpretavam os piores medos dele. Estava sempre ao seu lado para mostrá-lo que, independente do que acontecesse, sempre teriam um ao outro.
Estão sendo tão ruins assim ultimamente?
Não sabia por onde começar a responder aquela pergunta. Seus pesadelos não eram particularmente violentos ou assustadores mas, de uma maneira quase primal, sentia mais medo das consequências de suas próprios atos do que de ter seu sangue derramado. Toda vez que pregava os olhos estava mais uma vez diante da deusa da discórdia, incapaz de tomar uma decisão diferente da que lhe custava tudo o que tinha como valioso – seus amigos. Sua família. O que Anastasia pensaria se a dissesse que seu maior pesadelo envolvia sua morte, e que o peso de a ter causado em um plano que não o real o parecia esmagar? “You're in them, you know.” Admitiu, seu tom quase um suspiro, como se envergonhado o colocar em voz alta. Sabia que não era justo o dizer, não quando ela estava enfrentando o peso da descoberta de uma traição imperdoável, e sua intenção não era a fazer sentir culpada: buscou por seus olhos para lhe dizer de maneira silenciosa que, em meio às perdas e decepções, ela o tinha como âncora e lar.
A escutou atentamente e, como se feito de vidro, sentiu no peito um estilhaçar. Era coração mais do que era cabeça, e não sabia exatamente o que dizer em vias de consolo. Não conseguia nem imaginar como ela se sentia a respeito de Maxime, ou o tipo de material que a descoberta oferecia para seus tormentos noturno. Sequer sabia se o podia responsabilizar, ou se ainda havia alguém por trás da cortina conduzindo a peça que ela se via forçada a estrelar. Por mais que parte de si tinha medo de fazer perguntas que a sensibilizassem, a queria ouvir na esperança de que o desabafo trouxesse alívio e, como se movido por instinto, cruzou o espaço que os separava para a envolver em seus braços. A permitiu descansar a cabeça em seu peito de maneira a disfarçar a lágrima que havia deixado escapar, a materialização da regra dourada que dividiam: partilhavam da dor sem precisar falar.
“Você não precisa enfrentar toda essa merda sozinha.” A lembrou em um sussurro que era metade alento e metade repreensão. Não faria questionamentos, mas a daria o espaço para que continuasse a expressar o que a açoitava se assim desejasse. “Pode voltar a ser forte amanhã. Hoje tem permissão para desabar.” A ofereceu porque a conhecia, se afastando o suficiente para a poder encarar. Por um momento, desejou ter os poderes que ela tinha, na intenção de a apaziguar. Se os tomasse para si, talvez a ajudasse a se desapegar da ilusão do controle, e talvez servisse para remediar sua sensação de impotência quando os inimigos que a atacavam eram intangíveis, fruto de sua psique e seus traumas, e a realidade que a aguardava com o nascer do sol pouco fazia para colaborar. Em silêncio, tomou as mãos de Nastya na suas, comunicando com o toque tudo o que deixava suspenso em palavras. Real ou não real, enfrentariam juntos o que quer que lhes viesse atormentar.
E na manhã seguinte, aquela noite seria arquivada em um canto remoto de suas mentes, onde nenhum dos dois planejava revisitar.
"Aqui, é claro." Mas também tinha um pouco relacionado com os ataques, mas não queria falar sobre aquilo. "Claro que é útil em muitas situações, mas não contra os mortos. Mortos não sentem muitas coisas, sabe?" Um sorriso provocativo apareceu nos lábios dela. Por muito tempo, principalmente quando entrou, ansiava por ter um poder mais ofensivo. A habilidade na espada, combinado à uma transmutação ou talvez algum controle de elemento, seriam o ideal para a Anastasia de 15 anos que ainda estava aprendendo muito sobre a vida. Aprendeu, depois de um tempo, que poderia facilmente tornar o próprio poder uma força, então o fez. "Sou uma pessoa difícil, mas que posso ser convencida de algumas formas. Cabe a você descobrir quais formas são essas." O flerte saiu naturalmente dos lábios da filha de Afrodite. Para ela, era inevitável provocar levemente Remzi, ainda mais quando ambos nutriam a relação cheio de provocações e promessas não cumpridas. Ambos eram convencidos o suficiente para tomarem suposições para si, mas Anastasia era orgulhosa demais para sequer dar um passo certeiro em direção ao que queria. Para ela, a parte mais divertida era manter os pequenos jogos. Por isso, não hesitou em aproximar-se um pouco mais dele, mantendo os olhos fixos no dele. Ao escutar as palavras alheias, no entanto, o revirar de olhos veio de forma teatral. "Não precisa. Esse tipo de coisa não me assusta." Ainda sim, os pelos pareciam eriçados até demais. Manteve o queixo aberto, caminhando como se nada fosse a afetar. "A não ser que você esteja assustado."
' Por essas situações está se referindo aos ataques ao Acampamento ou a isso aqui? ' gesticulou com o indicador, referindo-se ao lugar onde estavam. Curioso considerar que Nastya também estivesse temerosa em relação à Ilha de Circe, justo quando pensou que tal temor se limitaria aos homens. Era nítido, contudo, o quanto a filha de Afrodite estava tensa, ao ponto de, inconscientemente, levar a mão em direção às suas armas. ' Seu poder pode ser muito útil para nós, no futuro, a depender do momento. Não sabemos o que está por vir. Pode não ser tão ofensivo quanto você gostaria, mas tem sua utilidade ' não se lamentaria, porém, a sensação de impotência devia ser inerente a cada semideus que não tivesse o rei na barriga. Se Remzi fosse pensar, estava longe de ser o mais poderoso em termos de ofensividade, não importava quantos anos de treinamento tivesse. No caso de uma guerra, ficaria à mercê das habilidades físicas. ' Você podia ter dito que eu nunca irei prová-la logo de cara. Isso meio que me dá esperança ' retrucou convencido, já que não estava diante de um não, só de um ainda não. O sorriso esmaeceu, entretanto, assim que viu a atmosfera em seu entorno mudando – efeito dos sentidos inatos. Temia que a madeira podre fosse se desfazer abaixo de seus pés se pisassem muito forte conforme avançavam, dada a idade aparente do navio. Agora que estava ali, a lembrança de outros tempos fez com que ficasse nostálgico e meio nauseado, mas além de um leve torcer das feições e a perda do humor, nenhum outro indício estava dando. ' Podemos voltar se estiver com medo, Nastya. Ainda dá tempo '
BIRDS of a feather .
trigger warning : morte && dor física .
Sentiu como se tivesse um peso que subia na cabeça e ia descendo para as pernas. Precisou piscar algumas vezes para identificar aquele lugar, principalmente porque estava em um passado tão obscuro que armazenou em uma parte da mente que não poderia ser facilmente acessada. Ali era onde os pesadelos começaram, quando tudo que poderia fazer era sentir as lágrimas escorrerem pelo rosto toda vez que sequer pensava no antes do Acampamento Meio-Sangue. Ela gostaria de ter tido mais tempo, mas estava novamente na mansão da família, embaixo da mesa que tinha visto o pai morrer. A respiração ficou pesada, o ar tornando-se difícil de entrar, mesmo que ofegasse. Tentava não pensar naquele momento, na falta que o pai fazia, já que, antes de ser reclamada e finalmente ser curada dos traumas, tudo que sentia era uma saudades que doía o peito. O luto destruiu Anastasia, a criança que tinha um pouco de chance de ser doce. Quando o genitor morreu, não havia mais nada para ela naquele mundo e, por muito tempo, acreditava que seria melhor desistir do que continuar vivendo.
Não era mais uma criança indefesa, no entanto. Tinha experimentado o mundo e, acima de tudo, lutado para que ganhasse e achasse o seu espaço. Os olhos não enchiam-se mais de lágrimas como antigamente e não havia mais um constante pesar nos ombros que impediam de prosseguir. Estava saindo debaixo daquele lugar quando sentiu o cheiro de sangue, repulsivo como lembrava. As mãos começaram a tremer inconscientemente e fechou os olhos com força, voltando-se ao lugar onde estava. Conseguia sentir a perna ficando molhada com o líquido vermelho, mas se recusava a encarar aquilo. Sabia a cena que encontraria: o corpo do pai, os olhos gentis e, ao mesmo tempo, aterrorizados com o fim que estava tendo, mas com um sorriso ao perceber que a filha não sairia do esconderijo e, assim, ficaria bem. Camada por camada, de indiferença para raiva para deboche, blindava-se da capacidade de expressar o que sentia e desenvolver vínculos afetivos com qualquer um. Era uma armadura que impedia que amasse e permitisse ser amada. Mesmo que os pesadelos jamais tivessem indo embora, encontrou forças na própria dor para que conseguissem seguir em frente minimamente. O que a assustava de vez em quando era perceber como esquecia aos poucos o tom exato do azul dos olhos do pai, assim como onde estavam as covinhas que tanto invejou e queria ter herdado. Não queria esquecê-lo e, por mais que tivesse uma foto ou outra, as lentes jamais capturavam corretamente o que ansiava saber. Ela não queria que a vida com o pai se tornasse apenas um fragmento.
— Nastya? Estamos aqui. — Escutou a voz de Maxime, o que fez com que abrisse os olhos novamente. A mesa tinha desaparecido, mesmo que continuassem na mansão. Não havia mais sangue, o que era estranho. Talvez tivesse imaginado aquilo. Como que tinha parado ali, de qualquer forma?
Um sorriso apareceu nos lábios dela, naturalmente feliz em encontrá-lo novamente, já que tinha sido uma das principais pessoas a fazer com que passasse pela sua fase nebulosa. Os olhos escaparam para as pessoas atrás dele, observando Bellami e Christopher, e ficou um pouco confusa do porquê todos estavam em sua antiga casa. Um carinho imediato invadiu o coração dela, já que aquela era sua família. Depois de tudo que tinha acontecido no passado, tinha achado novamente pessoas que poderia chamar daquela forma e que nutria um amor incondicional. Faria qualquer coisa por eles, independente do que fosse e sem nenhuma hesitação. Aceitou a mão estendida do conselheiro, pronta para ir embora do lugar que trazia memórias mistas em sentimentos. Queria chorar para ele e contar de como os pesadelos tinham sido desencadeados. Estava pronta para falar para todos irem embora juntos, a boca abriu, mas o som que foi escutado não era de sua voz.
Escutou o som que perseguia os pensamentos bloqueados, um grito que fazia com que acordasse quase todas as noites com um solavanco. Ele pareceu preencher cada canto da sala de estar e sabia que não tinha por onde escaparem.
Não era mais fraca, não tinha mais medo. Puxou a espada sem nenhuma hesitação. Pensava no pai e que, se tivesse a mesma habilidade que tinha atualmente, nada de ruim teria acontecido. Ela era boa. Ela era a melhor. Ainda sim, havia uma pequena parte de si que fazia com que o coração batesse aceleradamente e sentisse o interior chocalhar com uma ansiedade iminente. Segurou a espada mais forte, apontando em direção que o grito vinha.
— Podem ficar tranquilos. Sou incrível, acabo com ela em questão de segundos. Se quiser sentarem e observarem o show. — A voz saiu de forma bem-humorada e confiante, repleta da arrogância que, quem convivia com Anastasia, sabia que poderia facilmente enganá-la em um momento importante.
Tinha desenvolvido aquela personalidade depois de anos acreditando que não merecia nada do que tinha, já que havia perdido o que importava. Havia permitido que perdesse. Precisava não sentir como se fosse um eterno peso e, quando não teve mais aquele sentimento, uma nova filha de Afrodite foi colocada em seu lugar. Confiante, cheia de si, arrogante. Várias formas de encarar o mesmo objeto de estudo.
A harpia, no entanto, desprezava a peça de ouro imperial que Anastasia apontava para ela. Parecia simplesmente ignorar a presença da semideusa, os olhos presos nos irmãos. Tentou chamar a atenção dela com um grito, mas não foi o suficiente. Cansada daquilo, o corpo preparou-se para um ataque, então... Nada. Os irmãos pareciam despreocupados, já que a Bragança tinha prometido que protegeria eles. Por que deveriam se preparar para uma batalha no qual ninguém havia os chamado? Tentou mais uma vez, mais outra, porém as pernas pareciam imóveis, como se tivessem coladas no chão. Queria correr em direção a ela e mostrar o quanto era capaz de proteger as pessoas que amava, mas perdia as esperanças aos poucos. Quando a harpia finalmente levantou voo, os olhos claros arregalaram-se no mais profundo desespero e, antes que pudesse pedir para que se preparassem ou corressem, o monstro avançou neles impiedosamente.
Não duraram segundos e tudo que pode fazer foi observar. Os braços pararam de se mover, assim como as pernas. Tudo parecia rígido, mesmo que os olhos se movimentassem de um lado para outro, sendo obrigada a assistir aquilo. Assim que tudo acabou, a harpia pareceu decidir que já estava satisfeita e voou para longe. Nos rostos dos irmãos, a expressão acusatória e traída permanecia, já que tinha pensado mais em si do que neles. Como tinha permitido que não ajudassem? Como poderia não tê-los protegido? Novamente, estava sozinha, sem família. Caiu de joelhos, as lágrimas invadindo os olhos como não acontecia fazia muito tempo. A família que tanto amava, que tanto tinha construído, não restava mais ninguém.
Estavam todos mortos e era culpa de Anastasia.
Ela era fraca.
Fraca.
Fraca.
semideuses citados : @maximeloi && @thxbellamour && @christiebae
@silencehq
Durou apenas um segundo, mas Anastasia sentiu uma diferença de comportamento em Kitty que não estava esperando. A outra, que estava tão hesitante em beber sequer uma gota mais, tinha o virado, o que com certeza surpreendeu a filha de Afrodite, que olhou com curiosidade para ela, tentando adivinhar o que tinha acontecido. Tomada pela vontade de compreender melhor a situação, acompanhou a visão dela anteriormente, pensando que talvez tivesse visto algo chocante. Ao ver Aidan (que, se não estava enganada, viu entrar com Kitty no baile), as peças começaram a ser encaixadas, mesmo que não entendesse qual era o apelo em relação a ele. Duas mulheres bonitas querendo atenção de alguém assim era algo digno de choque para ela, já que a personalidade dele era muito duvidosa. "Você está assim por conta dele?" O tom de indignação era algo que não conseguia evitar, mesmo que tentasse evitar. As palavras saíram antes mesmo que pudesse controlá-las, sabendo que poderia irritar facilmente a filha de Hades. Não que estivesse julgando completamente as escolhas alheias, mas Aidan tinha uma reputação nada boa, então talvez fosse uma tolice acabar gostando logo dele. Sabia que aqueles assuntos não poderiam ser controlados, mas talvez fosse melhor apresentar melhores opções para a outra, mesmo que as palavras de Nastya fossem ser repletas de acidez. Talvez, bem lá no fundo, se importasse com ela.
"E você está certa. Mentiras nunca valem a pena, sempre são um poço sem fundo que acaba levando para mais mentiras." Esperava que aquilo fosse o suficiente para que Kitty desistisse daquele homem, que com certeza não valia a pena. Os olhos analisavam cuidadosamente a outra, decidindo se deveria ou não respondê-la que sim, já que parecia estar passando por um dilema interno. Mesmo que Anastasia desejasse desbravar o mundo intenso que representava a filha de Hades, não sabia se era adequado fazê-lo quando estava embebedando-se para afundar em uma alienação dos problemas. Mordeu o lábio inferior por um segundo, pensando o que deveria responder. Não era babá de qualquer pessoa, no entanto. "Acho que sim. Você merece ser mal comportada e imprudente." Perguntou-se o quanto seria necessária a sua aprovação, já que a outra já tinha pedido outro drink. Seria uma noite bem interessante, de fato, mas ainda sim um pequeno sorriso de satisfação era visível em Anastasia. Talvez finalmente obtivesse o que desejasse e conseguisse viajar pelas sombras da mente alheia facilmente se elas estivessem distraídas com o álcool presente na outra. Era um teste a ser realizado. "Quem me dera ter tanto autoconhecimento, facilitaria muito minha vida, mas não consigo controlar o que sinto." Seria confuso, no entanto, porque uma vez que mudasse os próprios sentimentos, eles não existiriam mais. Para onde iriam, por exemplo, o afeto e a felicidade? "Mas sim, consigo controlar os outros. Não consigo, por exemplo, mudar os seus pensamentos, mas a maneira como você se sente." Esperava que a outra não pedisse para que usasse algo nela, já que, devido ao álcool, não sabia o que poderia acontecer exatamente. Finalizou o próprio drink e pediu outro, só que um pouco mais forte. Quanto mais bêbada estivesse, mais fácil seria ignorar as sombras da filha de Hades tentando ela a conhecer mais. "Venha, vamos para um lugar mais silencioso. Talvez ajude no seu... Estômago." Não que se importasse com os sentimentos de Kitty (pelo menos, não que confessasse), mas seria complicado conversar com alguém que ficaria pensando no coração sendo quebrado toda vez que o olhar escapasse do dela. A mão dela segurou a da semideusa, guiando-a para um pouco longe do baile, permitindo que ambas respirassem um pouco mais facilmente e a música estivesse longe. "Então, você tem alguma pergunta para conhecer algum segredo meu?" Tentava distrair a outra das coisas que estavam acontecendo.
A menção dos esmaltes fez Kitty olhar para as próprias unhas. Geralmente não estavam feitas ou então pintadas de alguma cor como amarela ou verde. Para aquela noite, estavam apenas com uma base clara que Kitty havia encontrado no fundo de sua gaveta, bem aparadas de forma quadrada. Se a pergunta de Anastasia fosse que tipo de esmalte estava usando, estaria perdida. Kitty não saberia dizer. Por sorte, ela pareceu perguntar algo mais fácil, o que a levou a abrir um sorriso. Nunca achou que poderia ser tão fácil estar na presença dela e deu um pouco de crédito ao álcool que as envolvia, talvez até um pouco a Afrodite e sua aura apaziguadora. Estava feliz que finalmente conseguia trocar algumas palavras com ela, coisa que parecia impossível quando a loira namorava o irmão. Estava pronta para responder a pergunta simples de Anastasia quando um movimento aleatório na pista de dança chamou a atenção. Kitty sequer sabia porque tinha olhado naquela direção, atrás de Anastasia. Deveria focar apenas na mulher a sua frente, afinal, mas ela estava olhando por cima dos ombros, para Aidan e Mary dançando de maneira bem íntima.
Kitty quis causar um terremoto e afastá-los. Gritar e abrir um buraco no chão que engolisse o baile todo. Puxar os cabelos dele e lhe dar várias pedradas. Tudo o que os homens fazem é contar mentiras, pensou, sentindo a pancada de raiva e de ciúmes desconfortáveis atingir o estômago. Por um momento, quis apenas se deixar levar pela raiva, mas ao invés disso apenas pegou novamente o copo com mojito e o virou, sem se importar com a intensidade do sabor ou a forma como descia quente pela garganta. Precisava de qualquer coisa para distraí-la da cena, por isso focou nos olhos azuis de Anastasia. Azul era uma de suas cores preferidas. Decidiu então que não faria cena alguma, não era esse tipo de mulher. Estava muito acima de um homem qualquer e seu comportamento indecente e mentiroso, embora desejasse estragar o rosto dele. Portanto apenas forçou um sorriso por entre os lábios, pensando na resposta da pergunta dela, ignorando a força da fúria que ardia em seu interior. "Gosto de quando as pessoas me tratam bem e são sinceras. Não gosto de mentiras. Se forem boas comigo, sinto vontade de conversar novamente e me manter próxima." Respondeu, virando o copo novamente para as últimas gotas e pedindo mais um. "Eu deveria ser imprudente e mal comportada hoje?" Era uma pergunta mais para si mesma, no entanto, sabia que seu comportamento ruim não se resumiria a dançar sem vestido em cima de uma mesa. Kitty respirou fundo, sentindo em seu âmago pequenos tremores; a terra reagindo aos seus próprios espasmos de raiva. "Queria me sentir como você. Mesmo sem beber, me sinto cada vez mais pesada, como se tivessem pedras em meu estômago... mas não vou vomitar ou arruinar nada por aqui, não se preocupe." Queria avisar, porque não desejava que Nastya a considerasse nojenta de alguma forma. "Você consegue controlar como vai se sentir? Consegue controlar os outros também?" Deveria pedir uma intervenção da bela filha de Afrodite? O chão vibrava, ondas pequenas que apenas Kitty conseguia perceber. Apesar do que sentia, não queria arruinar o baile e ganhar a eterna antipatia de Eros e Afrodite. Aidan não merecia essa reação. Se resolveria com ele depois. Ou não. Poderia muito bem ignorá-lo pelo rosto de seus dias. Quando o outro mojito chegou, Kitty não hesitou em levá-los aos lábios. "Obrigada por isso. Parecia que você estava adivinhando que eu precisaria de algo forte hoje." Deixaria seu surto para outro momento, por ora, apenas aproveitaria da companhia enigmática de Anastasia.
FLASHBACK . A expressão de desagrado foi óbvia em sua expressão, não fazendo nenhum esforço para disfarçar. Mesmo que não fosse confessar em voz alta, Raynar sabia quando ela provavelmente estava mentindo, então não fazia questão nenhuma de fingir ou sentir alguma coisa diferente. "Se alguém tirar uma foto minha assim, aí sim teremos um afogamento." Os olhos dela desviaram do rosto alheio, olhando em volta como se procurasse. Apertou os lábios, levemente nervosa, uma vez que não estava mais em sua roupa mais atraente possível. Mesmo que fosse só um biquini, Anastasia gostava de estar bonita, mesmo que soubesse o quão fútil era aquilo. Se fazia com que se sentisse bem, então fazia sentido gastar tempo com as roupas que utilizava no dia-a-dia. Um sorriso natural apareceu nos lábios dela quando viu a comida ao redor deles. Afundou o rosto e depois o corpo, esperando que aquilo fosse o suficiente para que conseguisse observar os peixes, que não demoraram a ir ao redor deles. Havia tantas cores, aparecendo como uma aquarela perto deles. Fazia tempo que não observava algo tão belo assim, gravando a imagem na mente para que pudesse descrevê-la mais tarde para o pai. Voltou para a superfície assim que o oxigênio acabou, tirando o snorkel por um segundo. Os olhos voltaram-se para o semideus. "Será que algum dia vamos ter algum tempo de paz assim novamente?" O corpo, naqueles dias, parecia ter sido tomado por uma leveza inerte, que espalhava em cada uma de suas células. Parecia constantemente flutuando entre as nuvens, o humor sendo apaziguado pelo clima que semelhava a tropicalidade.
O bom da falta de questionamentos é que ele não precisa tirar o sorriso de vitória do rosto salpicado de queimaduras. Mesmo com todo o protetor solar do mundo, a ausência de sol e o céu coberto de nuvens do acampamento, tinham sensibilizado a pele do filho de Zeus. O bronze dos treinamentos dando espaço para a skin mais clara, dos tempos que morava entre as montanhas e com neve até os joelhos. “ 🗲 ━━ ◤ Não, claro que não. ◢ Provocou com os cantos da boca exageradamente para baixo, a cabeça negando com veemência. “ 🗲 ━━ ◤ Um afogamento aqui está mais para humilhação. Acho que vi alguém com uma câmera... ◢ Hornsby disse aquilo só para irritá-la, não achou que fosse realmente assustar. Usando o apoio da escada, ele saiu de trás e ergueu o braço, a mão espalmadas nas costas do colete salva-vida. “ 🗲 ━━ ◤ Tenha cuidado, Santos. Deveria ter sugerido que pulasse logo. Uma entrada rápida e limpa. ◢ Segurando a vontade de carregá-la pelo colete e colocar no meio daqueles corais, Raynar esperou que entrasse completamente dentro d'água. “ 🗲 ━━ ◤ Vou nos levar o mais distante dos outros, porque essa movimentação toda vai assustar a maioria dos peixes. ◢ Com Anastasia a tiracolo, o filho de Zeus caminhou submerso. Os olhos azuis focados na movimentação da água, na corrente que passava pelas pernas. Quando achou um lugar ideal, destampou a garrafinha com comida de peixe e espalhou ao redor dos dois. “ 🗲 ━━ ◤ Vejo você lá embaixo, firecracker. ◢
"Você não ama ele romanticamente, então?" Anastasia não hesitava em ser intrometida, mesmo que não ligasse tanto para o assunto. Não era o tipo de pessoa que segurava a língua, ainda mais quando tinha questionamentos ou críticas. A verdade é que estava um pouco surpresa com o envolvimento de Love e de Josh, as personalidades sendo incrivelmente opostas. Talvez a outra aliviasse a intensidade dele, mas não sabia ao certo. "Eu sei! E as pessoas subestimam tanto os perfumes do Yves Saint Laurent. A maioria é obcecado pelos da Dior e pelos da Chanel, mas, sério, acho que se você entrar no chalé de Afrodite, vem uma nuvem de Chanel Nº 5 e La Vie Est Belle. Nada contra, mas já deu, sabe?" Sabia que a outra provavelmente não se interessaria por aquele assunto, mas era inevitável para a filha de Afrodite não desabafar sobre aquele assunto. Para ela, como você cheirava refletia muito a respeito da sua personalidade. Por exemplo, Love com certeza usaria perfumes doces, porém com um fundo mais cítrico e fresco, não tão voltados para baunilha quanto a maioria das pessoas utilizava. "Vamos, vamos! Quero muuuita emoção." Quando chegaram, não havia mais fila, o que deveria ser um indicativo de que poderia ser demais, mas Anastasia não ligou. Pegou a mão da amiga e puxou para que sentassem no primeiro carrinho. "Está preparada?"
Love olhou para Anastasia como se ela fosse louca. ❝ ― Você sabe melhor do que eu como paixão, amor e essas coisas funcionam. ❞ — Ela riu porque imaginou que uma filha de Afrodite entenderiam melhor sobre essas questões a própria Kinn. A resposta do segredo a fez olhar de maneira curiosa e refletir sobre. Ok, considerando que ela era uma filha da deusa do amor e beleza, faria sentido guardar segredos de beleza. Ainda assim, Love desejou algo mais palpável. ❝ ― Hmmm, é um bom perfume. ❞ — Por fim elogiou. Não forçaria a barra, sabia bem que bons segredos vinham com uma dose de confiança e não sobre o domínio do medo. Quando sentiu o aperto em seu braço, encarou a montanha-russa e sorriu. ❝ ― Ok, vamos! Mas precisamos ir no primeiro carrinho. Sabe que ele é o mais emocionante, né? ❞ — Perguntou conforme corria animada para o brinquedo.
FLASHBACK . Assentiu com a cabeça de forma compreensiva, sabendo o que a outra estava dizendo. Muitas vezes, sequer sabíamos o que precisávamos ao certo, vivendo em uma eterna dúvida. Mesmo ela, como filha de Afrodite, muitas vezes ficava questionando se era merecedora de algo como amor recíproco. Era insegura demais em relação aos poderes e sensível às opiniões alheias para que se entregasse com tanta verdade. Talvez demorasse algum tempo para que, se encontrasse, o fizesse sem pensar. Era dotada da habilidade de pensar excessivamente, mesmo que fosse movida pelas emoções. "Se ele fizer qualquer coisa que seja digno de montanha-russa, me fale que eu dou um jeito." Piscou para a semideusa em um gesto brincalhão. Sabia que Joseph não faria qualquer coisa contra ela, uma vez que sempre demonstrou ser completamente apaixonado. Na opinião de Anastasia, tinha demorado até demais para que firmassem aquele namoro, já que, na visão de quase todos do Acampamento, fazia um tempo que eram namorados. "Vou indo, Yas, mas te vejo depois, ok?" Prometeu para ela. Tinha muito que desejava aproveitar ali ainda, já que sabia que aconteceria algo. Sempre acontecia.
FINALIZADO.
❪ ⠀ ⠀ flashback !!! ⠀ ⠀ ❫. Sua resposta deve ter soado confusa para a amiga, mas não a corrigiu, mesmo que isso tivesse arrancado um riso discreto de Yas que estava falando em tom de brincadeira a respeito do resort. Certamente não havia sido a primeira vista com Joseph, mas isso não tornava tudo menor do que sentia. Gostava mesmo do rapaz. No entanto, a resposta seguinte a fez sorrir de um modo mais compassivo para com Anastasia porque ser ignorada por seus poderes poderia ser algo cruel quando nem você mesma é capaz de lidar com eles. A filha de Deimos passou por isso alguns anos até finalmente deixar pra lá. ❝ ― Pode ser. Sinceramente? Penso que a gente só sabe o que quer quando vemos o que temos, não sei. Ou que poderíamos ter. ❞ — Não sabia bem como aconselhar a filha de Afrodite porque certamente falar sobre amor não era com ela, e principalmente para uma cria do próprio amor. ❝ ― A gente só sabe quando está vivendo ou algo assim, não sei. Pelo menos sinto que sim. ❞ — Deu de ombros e suspirou, se deixando cair na cadeira e sua nuca se apoiar no encosto fofinho, relaxando ali enquanto encarava o teto. ❝ ― Minha vida já é uma montanha-russa, então no amor eu iria precisar de paz e acho que achei. Eu espero. ❞ — Comentou num riso mais divertido. ❝ ― É o que estamos precisando no momento, claro. Um pouco de paz em algum âmbito da vida. ❞
FLASHBACK . Observou a movimentação do outro, permitindo que um sorriso divertido aparecesse nos lábios dela. Isso fazia com que lembrasse de como era o relacionamento dos dois quando estavam juntos, uma vez que Raynar, mesmo com todo o seu jeito rude e todo movido a heroísmos, sempre fazia questão de fazê-la se sentir confortável. Assim que sentiu o calçado envolver o pé, todos os comentários sobre ser uma Cinderela sumiram de sua cabeça. "Ok, meu príncipe encantado de 2 metros. Não duvidarei mais da sua capacidade." Mesmo que a voz permanecesse divertida, sentindo-se mais leve do que se sentira há muito tempo, havia também uma leve tonalidade de flerte, inevitável para a filha de Afrodite. A amizade (se é que poderia chamar assim) tinha crescido aos poucos desde o momento que dividiram aquela cama no chalé de Zeus e de forma não maliciosa, o que era uma novidade e tanto tratando-se dos dois. Uma memória ou outra permanecia um pouco mais vívida, mas tentava ao máximo não sucumbir a nenhuma tentação, principalmente quando olhava para ele ajoelhado aos seus pés, o que fez com que mordesse o lábio por um milésimo de segundo com alguma lembrança que o envolvia a chamando pelo seu nome. É claro que pensou em recusar a sugestão alheia para não parecer fraca de alguma forma. Talvez até com o tom de arrogância a que estava acostumada. Anastasia, no entanto, estava naquele processo lento e torturante de ser uma pessoa melhor e mais receptiva. "Certo, mas não é porque eu vou me afogar ou algo do tipo." Usou a mão dele para que descesse sem nenhum problema, mesmo que tivesse escorregado suavemente no último degrau. O corpo vacilou por um momento e o coração parou por um segundo antes de sentir o corpo não sofrer tanto impacto, uma vez que a água auxiliou. "Ops." Foi o que limitou a dizer, com um leve sorriso envergonhado.
Raynar fechou a cara para a ex-namorada sem ter medo de assustá-la. Se alguém conhecia suas expressões, ela era uma das únicas. Ele respirou fundo, revirando os olhos. “ 🗲 ━━ ◤ Não estou sendo desrespeitoso, só simplista. Visitar corais não pode ser maré alta e- Vou repetir o discurso toda da filha de Circe. ◢ Desceu para um joelho, depois o outro; sentando-se sobre as próprias pernas. Não pela falta de equilíbrio, mas porque ficava mais perto dos pés dela daquela maneira. Delicadamente, exagerando na atuação de príncipe encantado, ele passou o primeiro calçado no pé dela. “ 🗲 ━━ ◤ Eu preciso responder? ◢ O amor pela vida do filho de Zeus era tão forte quanto o de conhecer o pai e isso não era segredo. Quando terminou de calçá-la, os ombros arriaram. “ 🗲 ━━ ◤ Eu de pé ainda vou ficar com a cabeça para fora do mar. Um colete mais me atrapalharia do que qualquer outra coisa. ◢ Ele colocou as mãos no peito, uma de cada lado, e a medida foi posta ao lado do colete mais próximo. Raynar era grande demais. Sem preder tempo, encontrou a escada e desceu, o mar o recebendo bem para variar. “ 🗲 ━━ ◤ Pode segurar em mim, subalterna. ◢
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